América Latina é uma parcela do continente americano que englobou características peculiares no processo de colonização e conquista, comparada com sua co-irmã norte-americana. Isto por ser habitada por nações pré-colombianas que incorreram num avanço surpreendente em termos de ciência e cultura, se situar na área de conquista de 
dois grandes impérios (português e espanhol) e na forma de sua colonização.     
 

 

A estratégia de dominação que aí se formou, concretizou-se em confrontos internos para subjugação dos povos da terra e externos contra invasores. O resultado disto foi a formação de uma estrutura histórica de aproveitamento dos recursos existentes em detrimento de interesses estrangeiros, o descaso pela população que se amontoou na marginalidade e a conseqüente imobilidade por parte dos governos,  formados após as integrações regionais que derrocaram na formação dos Estados-Nações latinos, frente à desagregação e destruição dos seus recursos naturais e à opulência de ilhas de prosperidade que formaram-se no seu bojo. 
Consequentemente, o desenvolvimento latino-americano deve ser visto como um processo de  integração das sociedades que dela fazem parte, objetivando o melhoramento de sua condição social e o melhor uso de seus recursos. Isto envolve uma compreensão mais latente de geografia econômica das regiões latinas para buscar reverter o quadro de marginalidade e estagnação, acentuado por políticas macroeconômicas de curto-prazo, o processo de globalização e a concentração industrial, além de fatores políticos baseados em tentativas de hegemonia regional. 
Em vista do exposto, é evidente  que  a viabilização de políticas regionais internas, nos países periféricos, que estruturem formas de crescimento que absorvam de forma mais equânime as populações de suas áreas, via o aproveitamento adequado dos seus recursos. Frente a esta realidade, procurar entender e vislumbrar o potencial regional da América Latina em termos do aproveitamento dos seus recursos, em  especial os hídricos, para gerar riqueza e  promover padrões de vida mais adequados às populações nela integrados,torna-se latente para superar o subaproveitamento das riquezas naturais, de forma sustentável, que o continente propicia. Evidentemente, para isto deve se vencer num plano mais ideológico os interesses de exploração inter-regiões, caracterizados por pólos de industrialização que se formaram no seio de determinados países aproveitando-se de uma lógica de localização e potencial investidor, além de certos anseios geopolíticos caracterizados numa tentativa histórica de opulência regional praticado por algumas nações, como foi o caso da Guerra do Paraguai e a anexação da Província Cisplatina, pelo Brasil, no século XIX. 
Com isso, os projetos de sustentação econômica que venham a se formar necessitam adequar-se ao dinamismo do meio físico e social, e a sua viabilidade à condições de vida salutares num futuro onde se desenha uma revolução tecnológica extremamente complexa, que surge excluindo parcelas da população do seu alcance e de seus avanços. Dentro desta perspectiva, o processo de crescimento da América Latina deve ser integrativa, e o desenvolvimento deve ser distribuído e polarizado dinamicamente nas suas sub-regiões. 

A Geoeconomia da Macro-Região do Prata: Espaço e Potencialidades. 
A Bacia do Prata engloba o sudeste e sul do Brasil, o sudeste e nordeste da Argentina, o Uruguai, o Paraguai e o extremo sul da Bolívia. Por  este fato, envolve características peculaires dentro do espaço latino americano, já que esteve dentro do projeto de expansão do império português e espanhol, até final do século XIX, e dentro do foco geopolítico do império britânico e americano, no inicio do século XX, consolidando a influência dos Estados Unidos no final deste milênio. 
O interesse econômico nesta região se deve ao potencial produtivo que a mesma envolve. As áreas pertencentes à Bacia Hidrográfica do Prata compõem a região platense ( ou platina), estimadas  em 3,1 milhões de Km2, onde as áreas drenadas pêlos rios Paraná, Paraguai e Uruguai são lançadas no estuário do rio da Prata, entre o território da Argentina e do Uruguai, delineando aquela que é a quarta  maior Bacia Hidrográfica do mundo, abrangendo 30% da área total da América do Sul e junto com as Bacias Hidrográficas do rio Amazonas e  Orinoco (Venezuela) constituem  45% da superfície da América Latina e 70% das águas superficiais abrangendo em torno de 10% da população do continente ,   o que fornece  uma idéia da importância política e econômica do ambiente envolvido, cuja riqueza em recursos na-turais e a fertilidade dos seus solos lhe colocam junto com a Ama-zônia e  a Sibéria entre as mais ricas do mundo. 
A importância econômica da Bacia do Prata se acentua com as vastas áreas de produção agrícola, mineral e industrial. Fator de maior significado dentro das relações comerciais do Mercosul, o que demonstra um ambiente de proximidade de mercados, escoamento de produção e perfeito para a criação de novos pólos industriais, fato mais preeminente com a estrutura hidroviária. Já sua importância política surge com a característica de fronteira permanente, haja vista que na Bacia situam-se cinco nações, compartilhando a utilização dos principais rios, o que envolve um jogo estratégico no momento em que a estrutura de um país abrange espaço geográfico plenamente integrado ou sob sua órbita. 
A partir da Tabela 01, os aspectos físicos e as relações geográficas na Bacia podem ser visualizadas mais claramente. 
 
Tabela 01     Países da Bacia do Prata: Superfície e  População Total  
País
 Superfície 
(Km2 )
População(1000) 
1990  /  2000 
Sup. da Bacia no País
(1000Km2) 
 % da Bacia
  % do País na Bacia
Argentina
2.766.656
32.359 / 32.860 
 920 
32 
 37 
Bolívia
 1.098.581
 -        / 10.267 
 205
  6 
19
Brasil 
 8.511.965
150.555 / 212.508 
 1.415
44
17
Paraguai 
    406.752
  4.285 /  5.592
410
13
100
Uruguai 
    186.926
 3.130  /  3.993 
150
  5 
 80 
Fonte: Superfícies: Instituto Interamericano de Estatística e Ministério da Integração Regional do Brasil. População: Centro Latino Americano de Demografia e Universidade de Cruz Alta/RS. 
 
Pela  Tabela 01,  observa-se a relação de dependência de alguns países, principalmente o Paraguai e a Bolívia, ao uso adequado dos recursos naturais renováveis e ao potencial de integração que os mesmos representam, já que são países mediterrâneos colocando-os  na influência direta das duas maiores economias do cone-sul: Brasil e Argentina.  Por outro lado, a Argentina e o Uruguai, dependem mais diretamente do uso adequado dos recursos hídricos, já que se encontram na desembocadura da Bacia, no estuário do Prata. 
O aproveitamento da água na América Latina está inclusive situada num contexto histórico, já que as vias de acesso à conquista interna do continente sul americano deu-se através da penetração pelos rios. Na atualidade, a energia gerada, a água em reservatórios, o suporte ao consumo de água potável à população, bem como a navegação, constituem o ponto de exploração dos recursos que dão sustentação às atividades econômicas e a qualidade de vida da população. Nenhuma diligência econômica se realiza sem um aproveitamento do espaço das regiões, o que é delimitado pelo ambiente geográfico e político. Neste ambiente,  os recursos naturais são um elemento dinâmico no sistema de produção, principalmente as atividades ligadas a agropecuária e a economia urbana, já que viabiliza os assentamentos humanos e a rentabilidade econômica das atividades extrativas. Dentro da sua estrutura estabelece-se a colonização, a exploração de áreas, dá-se condições de sobrevivência às populações e estimula o processo de acumulação do capital através do favorecimento à instalação de indústrias, escoamento da produção e acesso aos insumos básicos. Uma parcela desta riqueza natural pode ser vislumbrada pela produção das principais fontes energéticas, cujo aproveitamento ótimo da estrutura fluvial da Bacia do Prata, poderia gerar energia na ordem de 60/70 milhões de kW, onde somente o rio Paraná, no seu curso brasileiro, geraria 32,5 milhões de kW. 

Considerações Finais 
A integração do espaço regional, atualmente, deve transcender as questões econômicas para englobar questões mais inerentes a qualidade de vida das populações. Como o uso econômico, e consequentemente a alocação de recursos, deriva diretamente do aproveitamento racional do meio-ambiente, os acordos no âmbito da Bacia do Prata, e por que não dizer do Mercosul, devem ter em conta a sustentabilidade do crescimento  da economia a longo-prazo e a distribuição das suas benesses aos povos que habitam a região. Essa questão é essencial no âmbito dos acordos regionais porque  representa a superação de conflitos  e evita a perda da qualidade de vida. Então as políticas regionais mais do que coordenadas devem ser planejadas, gerando uma distribuição justa dos investimentos e fomentando a transmissão interregional do progresso entre as nações que compõem a Bacia do Prata. Assim, mais do que fluxos de comércio, o Mercosul deve garantir a ampla inserção das economias regionais no progresso, por meio  de políticas conjuntas de descentralização industrial e de desenvolvimento. Se esta garantia for efetivada, com certeza será revertido o quadro migratório e de subdesenvolvimento em que algumas regiões estão afetadas. 

(*)  JANDIR FERRERA DE LIMA 
Dpto. de Economía Universidade Estadual do Oeste  
do Paraná -UNIOESTE 
unitoo@toledonet.com.bra